segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Cenário de selfies, Pedra do Telégrafo padece com maus turistas!

Paraíso começa a receber ações para coibir vandalismo e depredação
 ROSAYNE MACEDO 

Rio - Virou febre nas redes sociais. Em outubro do ano passado,
o meia do Vasco, Nenê, provocou frisson entre os torcedores ao
postar uma foto no Instagram em que aparece pendurado em
uma pedra, sobre um penhasco, beijando a esposa, tendo
ao fundo um belo cenário que mescla mar e montanha. Não
foi o único. As selfies na Pedra do Telégrafo, em Barra
de Guaratiba, na Zona Oeste do Rio, simulam um efeito radical,
que não passa de uma ilusão de ótica, mas se tornaram a nova
mania de cariocas e turistas que gostam de aventura. Mas esse
paraíso ecológico da cidade, até pouco tempo atrás desconhecido,
passou a sofrer com a depredação, lixo e até pichações. Obra e
graça de maus turistas que deixam para trás um rastro de
destruição e desrespeito à natureza.
A montanha de 354 metros, fincada no Parque Estadual da Pedra
Branca, começou a se popularizar há pouco mais de um ano.
Hoje, recebe milhares de visitantes, a maioria deles em busca de
fotos incríveis para impressionar amigos e seguidores nas redes.
Diante de várias denúncias, na última sexta-feira, o local recebeu
uma Operação Verão, promovida pelo Instituto Estadual do
Ambiente (Inea), que administra o parque, com apoio do Mosaico
Carioca, grupo de gestores de unidades de conservação do Rio.


Parece montagem: fotos que simulam abismo viralizam
na internet. Na verdade, os ‘destemidos’ visitantes estão
a um metro e meio de altura, em platô seguro
Foto: Divulgação

“Com a divulgação das fotos nas redes sociais, o turismo mudou
bastante a região. Agora vem outro público, o das trilhas, alguns
mais pelo modismo da foto e não pelo espírito de trilhar”, diz o
ambientalista Pedro Felipe Carvalho, de 26 anos, morador de
Guaratiba e guia de turismo.“Apenas moradores da região e
montanhistas conheciam o local. Agora, a média é de mil a
1.500pessoas por fim de semana. A grande maioria se incomoda
com o vandalismo”, conta Andrei Veiga, chefe do parque. Os
agentes iniciaram a instalação de placas educativas e indicativas,
com orientações sobre a conduta mais adequada em áreas
protegidas, e também de dormentes e cantoneiras para impedir
o acesso de motocicletas, além de retirar pichações das pedras
e fazer o manejo e manutenção das trilhas.
“Pode ser que abram a mente para essa ideia de natureza e vida
saudável e procurar outras trilhas, mas, infelizmente, a maioria
não sabe respeitar. Deixa lixo, pichação. Fica feio, estraga a foto”,
completa.
Campings e comércio ilegal de bebidas e comidas e outros artigos
na Praia do Perigoso, que integra o vizinho Parque Natural
Municipal de Grumari, também estiveram no alvo da recente ação
de ordenamento público. “Queremos promover uma visitação
adequada, sem prejuízos à biodiversidade e aos atrativos naturais
do parque”, disse Andrei Veiga. Segundo ele, a partir de agora,
aos finais de semana, a equipe do Inea e dos dois parques estará
presente nas praias do Meio e Perigoso e na Pedra do Telégrafo.

Moradores se unem para salvar as praias selvagens

Em dezembro, a ONG Amigos do Perigoso retirou meia tonelada
de lixo da praia e da trilha. Foram plantadas ainda 80 mudas de
árvores nativas da Mata Atlântica. “A gente vem cobrando sempre,
faz mutirão, leva mudas e plantas para tentar conscientizar
as pessoas. Mas a prefeitura e o parque deveriam fazer esse
papel há muito tempo. Com essa fiscalização e a operação, agora
vai passar a melhorar”, aposta Pedro Felipe, formado em Turismo
pela Uerj.
Ele e os amigos Rafael Klein, 35, e Wilton Maral, 31, se uniram
há um ano para criar o Trilhando Guaratiba, que organiza
caminhadas às Pedras do Telégrafo e da Tartaruga e às
chamadas Praias Selvagens:
(Perigoso, Búzios, Meio, Funda e Inferno).
A Pedra do Cavalo é a mais famosa do Morro do Telégrafo.
Ganhou este nome por conta de uma foto, tirada há mais de 20 anos
por Victor Klein, pai de Rafael, em que um cavalo aparece como se
contemplando a paisagem de tirar o fôlego. É ali que as selfies mais
concorridas do são tiradas. Filas de até duas horas se formam
para a foto tão desejada.


A foto de um cavalo observando a paisagem, tirada há 20 anos, motivou
moradores a batizar mirante mais famoso da Pedra do Telégrafo
Foto: Acervo pessoal / Trilhando Guaratiba


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